“Se Deus criou o mundo, os holandeses criaram a Holanda”. Um pequeno país de 15 milhões de habitantes, situado entre o norte e sul do continente europeu, viu chegar o futebol nos meados da década de 70 do século XIX, tendo sido fundada a sua federação em 1889. Na opinião de muitos, esta concepção de jogo que tem como pontos fundamentais o colectivismo e a solidariedade só poderia surgir, de forma natural, na Holanda, devido à cultura deste pequeno estado. Um país visionário, responsável por uma das maiores revoluções na abordagem táctica, do mundo do futebol, um exemplo de inteligência em movimento.

A Holanda apurou-se para o Mundial da Alemanha, vencendo o seu grupo na fase de qualificação, derrotando a Noruega (em casa por 9-0 e fora por 2-1) e a Islândia (ambos em casa por 5-0 e 8-1) e empatando com a Bélgica (por 0-0 em ambos os jogos). Esta Laranja Mecânica de Michels tinha como onze base – Jongbloed; Suurbier, Haan, Rijsbergen e Krol; Neeskens, Jansen e Van Hanegen; Rep, Cruyff e Resenbrink – a suas principais estrelas eram o fora-de-série Johan Cruyff (que mais tarde viria a afirmar: “Sempre me perguntei se mudaria o vice campeonato e os elogios que recebemos, pelo titulo em si. Penso nisso e não acredito que o trocasse. Claro que o gostaria de ter ganho, mas tantos anos depois quase se recorda mais a Laranja Mecânica do que a equipa campeã. A partir dessa data passou a falar-se em todo o mundo do futebol holandês”), Neeskens (eterno companheiro de campo de Cruyff, foi sem duvida o melhor jogador da Holanda na final frente à Alemanha), Resenbrink, Krol, Hann e Rep.

Na final, frente à Alemanha Ocidental (RFA), a Holanda já não era a mesma dos jogos anteriores, esta estava mais arrogante e não tinha em conta a forte formação alemã. Na final de Munique iriam encontrar-se duas das maiores personalidade do futebol mundial actual, Johan Cruyff (a sua primeira e ultima final) e Franz Beckenbauer (sua ultima hipótese de ganhar o campeonato do mundo). O jogo praticamente começa com o golo da Holanda, fazendo a bola circular por todos os seus jogadores num total de 17 passes, mostrando toda a cultura do seu futebol, ganha uma grande penalidade após uma falta sofrida por Cruyff, Neeskens executa na perfeição fazendo o seu 5º golo no Mundial e o 1-0. “Fantástico, a Alemanha não tocou na bola e já tinha sofrido um golo!” Irritados por causa disso, também por causa da imprensa alemã que previra a sua derrota, os jogadores alemães tentaram logo reagir, em busca do empate, mas o remate de Breitner passa ao lado. Com Cruyff extremamente bem marcado por Berti Vogts a Holanda não conseguia jogar o seu futebol. O empate acontece, aos 25 minutos, após uma recuperação, na defesa, da bola por de Beckenbauer, este passa Overath, vendo Holzenbein passa-lhe a bola, este com uma jogada individual ganha uma grande penalidade, má decisão do árbitro, que resultaria no golo do empate, feito por Breitner. Jongbloed, guarda-redes holandês e o único, no Mundial, que defendia sem luvas, com uma excelente exibição vai aguentando o empate, até aos 43 minutos quando Muller marca, após passe de Bonhof. Ao intervalo Michels tira o lesionado Rensenbrink, entrado Van der Kerkhof (este marcaria à Alemanha, numa fase final do mundial, mas só seria passados quatro anos). A segunda parte foi pouco mais do que um conjunto de oportunidades falhadas por parte da Holanda. Neeskens multiplicasse nas acções do meio-campo, tentando chegar ao golo e devido a má exibição de Cruyff. O jogo holandês tornou-se cada vez mais individualista, foi “incapaz de seguir a sua crença no Futebol Total, quando mais falta lhe fazia”.
http://fifaworldcup.yahoo.com/02/en/pf/h/pwc/mr/2063.html

(O esquema táctico acima reproduzido ilustra apenas uma referência lembrando um 4-3-3, mas que sempre se diluía ao longo dos jogos. Os números indicativos das camisas correspondem a: 1- Jongbloed; 2- Suurbier, 5- Haan, 3- Rijsbergen, 4- Kroll; 7- Neeskens, 6- Jansen, 8- Van Hanegen; 9- Rep, 10- Cruyff, 11- Resenbrink.)
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