Vencedor: Uruguai
Vice: Argentina
Melhor marcador: Stabile, Argentina, 8 golos
Golos: 70 (3,89 por jogo)
Assistência: 434.500 (24.138,89 por jogo)Em 21 de Maio de 1904, eram dados os primeiros passos para uma competição à escala mundial, com a criação da Federação Internacional de Futebol (FIFA -
Fédération Internationale de Football Association), pela ideia original de Robert Guérin, C. A. W. Hirschman, Henry Delaunay e Jules Rimet; dois dias depois o primeiro congresso seria realizado, com a participação da França (
Union des Sociétés Françaises de Sports Athlétiques, USFSA), Bélgica (
Union Belge des Sociétés de Sports, UBSSA), Dinamarca (
Dansk Boldspil Union, DBU), Holanda (
Nederlandsche Voetbal Bond, NVB), Espanha (
Madrid Football Club), Suécia (
Svenska Bollspells Förbundet, SBF) e Suiça (
Association Suisse de Football, ASF). Com Robert Guérin, e depois com Daniel Burley Woolfall, a Federação sairia da Europa continental.
Com Jules Rimet a presidente da FIFA (1921-1954), seriam dados os passos decisivos para a criação do Mundial. Sobre a influência, dos Jogos Olímpicos de Paris de 1924, é criada em 1926 uma comissão para estudar a possível realização do Campeonato do Mundo. «O conceito do Campeonato do Mundo nasce em França!»
O Uruguai, motivado pelas vitórias nos Jogos Olímpicos de 1924 e 28 oferece-se para organizar o Campeonato do Mundo, prontificando-se para pagar as despesas e a criar um estádio (o Centenario, alusivo ao 100 anos de Independência do país), esta proposta é acolhida com entusiasmo por Jules Rimet e ratificada no Congresso da FIFA de Barcelona em 18 de Maio de 1929.
Jules Rimet, a 21 de Julho de 1930 embarca em
Villefranche Sur Mer, num navio italiano,
Conte Verde, rumo a Montevideu. Segundo as crónicas, abandona o porto gritando: «Vive la France!» levando consigo, numa caixa, o troféu que seria dado ao vencedor, a Taça «Victoire aux Ailes d'Or» - mais conhecida como Taça Jules Rimet – onde está projectada, como o nome indica, Vitória com os braços erguidos, esculpida por Abel Lafleur, ourives e futebolista amador.
Victoire aux Ailes d'Or - De 35 cm de altura e pesava aproximadamente 3,8 kg
No mesmo barco, o
Conte Verde, estavam abarcadas as selecções nacionais da França, Bélgica (que o apanharia em Barcelona) e Roménia, já a Jugoslávia viajou no transatlântico,
Florida. Numa Europa que vivia em plena crise económica, só iriam 4 selecções ao Mundial, devido aos custos até Montevideu e à arrogância isolacionista inglesa, fazendo-se notar, além da Inglaterra, a ausência da Alemanha, Áustria, Espanha, Itália, Hungria e Suiça.
Começava, com 13 selecções, o Mundial e surgiam mais dois problema – o primeiro bem mais actual – os clubes não viam com bons olhos ceder os jogadores durante dois meses às selecções nacionais, a principal figura era a França, onde o profissionalismo já se iniciava, dando origem à não ida de Manuel Anatol, um dos melhores jogadores franceses e do Racing Club; o segundo era com a selecção brasileira, que se viu arredada de alguns dos seus principais jogadores – de origem paulista –, devido ao diferendo com a Associação Paulista de Esportes e Atléticos por ter recusado a incluir um treinador de São Paulo na equipa técnica.
Cartaz do Mundial do Uruguai de 1930
A honra de serem as primeiras selecções a jogarem o Campeonato do Mundo, caberia à França e ao México, o jogo ficaria 4-1 a favor dos franceses, o primeiro golo em campeonatos do Mundo seria marcado pelo francês Lucien Laurent.
Um dos dois jogos mais recordados deste Mundial seria outro da França, opondo-se, desta vez à Argentina, uma selecção desfalcada contra os vice-campeões olímpicos. Contra as expectativas, mas deixando os adeptos uruguaios em júbilo, a França fez uma melhor primeira parte. A vitória Argentina não iria ser tão fácil como parecia! A segunda parte é de parada e resposta, a Argentina obriga o guarda-redes Alex Thepot um conjunto de boas defesas, mas só chegaria ao golo de penalty – convertido por Luis Monti – aos 81 minutos. Aos 85 minutos, o árbitro brasileiro, Gilberto de Almeida Rego, decide entrar em jogo, ou melhor decide acabar o jogo, o que levaria a uma invasão de campo e aos protestos dos jogadores franceses e dos adeptos. Só quando alguns jogadores se preparavam para se irem embora é que o árbitro se apercebe de erro, retomando o jogo e fazendo jogar os cinco minutos restantes.
Andrade, a Maravilha Negra, considerado por muitos o melhor jogador do torneio. O outro grande jogo seria o da final, como previsto antes do início da edição, chegariam a esta fase o Uruguai e a Argentina, «a final de Amesterdão (Jogos Olímpicos de 1928) estava reeditada». A rivalidade fez-se sentir logo nos dias anteriores, a federação uruguaia só disponibilizaria 10 mil bilhetes para o território argentino, contra os 30 mil vendido no Uruguai. Muitos argentinos viriam de barco (a partir do rio de
Mar del Plata) e teriam que esperar horas até puderem entrar em solo uruguaio.
A Argentina que chegaria à final derrotando a França (1-0), o México (6-3) e o Chile (3-1), na primeira fase, e os EUA, do jogador de família portuguesa Adelino
Gonsalves, por 6-1, nas meias-finais. Depositava maior confiança no seu defesa Juan Evaristo, nos médios Peucelle e Monti e nos avançados Stabile e Ferreyra. Monti era a grande estrela da equipa, dotado tecnicamente era capaz das jogadas mais sublimes juntando a isso a impetuosidade que dava às disputas defensivas, autor de
tackles imponentes e Stabile, que seria o melhor marcador do torneio, com 8 golos, não era um avançado puro, jogava entre zonas, conhecido como
El Filtrador, por penetrar com facilidade nas defesas adversárias, facto curioso, é que Stabile não estava para jogar no primeiro jogo do Mundial, entrou devido a uma crise nervosa Roberto Cherro. A Argentina entraria com Botasso; Della Torre, Paternoster, Juan Evaristo; Monti, Suarez, Peucelle; Varrallo, Stabile, Ferreyra (capitão) e Mário Evaristo, treinados por Francisco Olazar.
O Uruguai para aqui estar presente eliminaria o Peru (1-0) e a Roménia (4-0), na primeira fase, e a Jugoslávia, por 6-1, nas meias-finais, a equipa Celeste apresentava-se neste final como bi-campeã olímpica, mas com a sua grande base envelhecida; Nasazzi, Scarone, Cea e Andrade já não revelavam a frescura física de outros tempos. Mesmo assim esta selecção mostrava-se evoluída para o seu tempo, apesar do seu 2-3-5 revelava já alguma sagacidade táctica, treinados por Alberto Supicci, que pouco ou nenhuma influencia tinha nas noções tácticas e na constituição da equipa - as suas funções limitavam-se à preparação física -, essas tarefas ficariam para o capitão Nasazzi, que criara uma equipa compacta, que utilizava a sua grande segurança defensiva como a arma da ataque, explorando fortes contra-ataques surpreendendo os adversários. José Nasazzia, era um defesa intransponível considerado por muitos, um dos primeiros liberos da história do futebol; Scarone, era um cabeceador exímio, conhecido pela enorme precisão do passe e pelo
Mago; Pedro Cea, era um jogador lento, mas em contrapartida habilidoso, que com a técnica prodigiosa do seu pé esquerdo marcaria ao longo das três competições (24, 28 e 30) golos bastante decisivos, tornando-se o vice-goleador do torneio; e José Leandro Andrade, era a
Maravilha Negra, era uma das principais estrelas deste mundial e exemplificador da mistificação da cultura e selecção uruguaia tinha sido um dos primeiros jogadores negros a jogar nos relvados europeus, no Jogos Olímpicos de Paris de 1924, era um jogador que defendia com grande capacidade e quando tinha a bola nas sua posse dava maior elegância ao jogo subindo pelo seu flanco. A equipa uruguaia entraria com Ballesteros, que ingressara no onze do mundial para substituir o guarda-redes Mazzali (um dos herois dos Jogos Olímpicos de 24 e 28), que tinha sido expulso, após ter sido apanhado a altas horas da noite a beber; Nasazzi (capitão), Mascheroni; Andrade, Fernandez, Gestido; Dorado, Scarone, Castro, Cea e Iriarte.
O jogo começava em polémica, os jogadores argentinos e uruguaios queriam jogar com as bolas fabricadas nos seus países, o árbitro belga John Langenus decidiu de forma salomónica na primeira parte os argentinos jogariam com a sua bola e na segunda com a dos uruguaios, coincidentemente cada uma das equipas venceria os 45 minutos relativos à sua bola. Perante 90 mil espectadores, o Uruguai entra no ataque e faz logo aos 12 minutos o 1-0, aproveitando um espaço concedido na área gaúcha, Pablo Dorado faz o golo, para euforia dos seus adeptos. Mesmo assim equipa do Uruguai mostra-se algo nervosa, falhando sucessivos passes, deixando o jogo para a Argentina, que aos 20 minutos cala o Estádio do Centenário, por Peucelle e aos 37 gela-o por completo quando Stabile, faz o seu 8º golo na competição, perante os protestos enraivecidos do capitão uruguaio, Nasazzi, reclamando um fora-de-jogo. O árbitro dá como terminada a primeira parte, Nasazzi regressa aos balneários enfurecido, «algo deve ter dito, porque algo mudou!»
Começa o segundo tempo, para Nasazzi era importante dar o exemplo, marca o golo do empate, mas não (!), ele é anulado, pelo árbitro belga! Esse golo não tardia a aparecer, estamos perante outra equipa uruguaia esta reaviva o seu espírito lutador de 2 e 6 anos antes, a classe é que, infelizmente, já não é a mesma, outra vez aos 12 minutos, desta vez da segunda parte, o Uruguai marcaria um tento, o 2-2, por Pedro Cea! Os adeptos uruguaios animam-se, outra vez, o silêncio é quebrado, para pena dos jogadores argentinos, que não mereciam aquele ambiente. Aos 68 minutos, Iriarte, após uma jogada espectacular da equipa Celeste, distancia o Uruguai a um golo. Perante este sentimento de injustiça, a Argentina tenta reagir, parte para cima da área contrária, atira-se para cima dos jogadores uruguaios, mas sem êxito! Perante este cenário, o Uruguai faz o 4-2, nos últimos segundos, por Hector Castro, jogador de um só braço, marcaria o último golo do Mundial de 1930 (!), que finalizaria o jogo. O troféu é entregue nas mãos do capitão uruguaio, Nasazzi – «O Uruguai é o primeiro campeão do Mundo!»
Era o delírio nas ruas de todo o Uruguai, o dia seguinte, para compensar os festejos, é decretado feriado nacional. Era o último acto de uma grande geração uruguaia, que tinha como representantes das três vitórias Nasazzi, Scarone, Andrade e Cea.
O Campeonato do Mundo estava lançado, o sucesso fora atingido financeira, desportiva e culturalmente, para grande gáudio dos adeptos do futebol começava a campanha dos Campeonatos do Mundo!
Celebração, pela vitória no Campeonato do Mundo, dos jogadores Celestes. Primeira-FaseFase de EliminatóriasFicha da Final:http://2002.fifaworldcup.yahoo.com/02/en/pf/h/pwc/mr/1087.htmlDream TeamPontos curiosos:- Na Roménia quem convoca é rei, ou o contrário! O rei exerceu as funções de treinador, acrescentado a isso um decreto, onde seria outorgado aos jogadores seleccionados três meses de licença nos seus respectivos trabalhos;
- A selecção brasileira não foi completa ao Mundial, sendo constituída apenas por jogadores cariocas, devido a uma divergência com a Federação Paulista, onde esta exigia a inclusão de um treinador de São Paulo na equipa técnica;
- Só dois países fundadores da FIFA é que entrariam neste torneio;
- Lucian Laurent, jogador francês, tornou-se o primeiro jogador a marcar um golo numa fase final do Mundial;
- A Bolívia no seu jogo de estreia decidiu agradeceu ao país organizador. Cada jogador entraria em campo com uma camisola com uma letra, que faria a mensagem: «Viva Uruguay». Pois, mas o jogador responsável pelo terceiro «U» esqueceu-se de apareceu, dando um resultado interessante;
- Como símbolo do amadorismo da organização esta o seu cartaz oficial, quando os jogos começavam a 13 e acabam 30 Julho, o cartaz anunciava o começo para 15 de Julho e o fecho para 15 de Agosto;
- O argentino Guillermo Stabille, foi o primeiro jogador que conseguir um hat-trick num torneio do Campeonato do Mundo;
- O primeiro jogador a ser expulso num Mundial seria o defesa peruano De Las Casas, devido a ter empurrado o árbitro chileno Alberto Warken, durante o jogo Peru-Roménia (1-3), aliás foi a única expulsão no Uruguai;
- O árbitro belga, John Langenus, teve que resolver difícil na final. Uruguaios e argentinos queriam jogar com as bolas fabricas nos seus países, o árbitro decidiu que uma entraria na primeira parte e outra na segunda. Através de moeda ao ar, ficou decidido que seriam os argentinos os primeiros;
- O árbitro brasileiro, Gilberto de Almeida Rego, decidiu que o jogo entre a França e a Argentina (0-1) devia de acabar mais cedo, foi o que fez! Acabou o jogo 5 minutos mais cedo, rezam as crónicas que quando o árbitro se deu conta de erro, já alguns jogadores argentinos estavam no chuveiro;
- Este foi o único Campeonato do Mundo, sem a disputa de 3º e 4º lugar;
- O torneio concentrou-se numa única cidade, em Montevideu, com os seus três estádios – Centenario, Pocitos e Parque Central.