quarta-feira, março 07, 2007

Antevisão do PSG - Benfica

Muito se tem falado deste encontro, o primeiro oficial entre os dois clubes que já se defrontaram por 5 vezes em amigáveis (o último jogo ocorreu em 2003 em que o PSG venceu 6-5 após penaltys, 1-1 durante o tempo regulamentar). Porque um dos intervenientes é o Benfica, que luta pela vitória na Taça UEFA. Porque enfrenta um clube que atravessa uma crise de resultados. Porque esse é o Paris St-Germain, de Paris, onde se promete um numeroso apoio da população portuguesa radicada em França.

Vindo da Liga dos Campeões, o Benfica faz parte dos favoritos à vitória final. Não só pelos resultados obtidos e pela forma actual dos jogadores, mas também pelo valor do plantel dos encarnados. E frente ao PSG, é claramente favorito à vitória nos dois jogos. O plantel benfiquista é superior em todos os sectores ao do PSG, excepto, eventualmente, no ataque e na baliza. Os recentes resultados do Benfica são um factor mais, nomeadamente no moral dos jogadores. De novo na corrida para o título, o Benfica pode de novo ir longe nas competições europeias, e reforçar o seu estatuto de grande clube europeu. Uma boa prestação na Taça UEFA é para isso,
necessária.

Em frente, o PSG, após um período inicial com Le Guen bastante positivo - estabilização da defesa, vários jogos sem perder e sem sofrer golos, voltou de novo a obter vários maus resultados (duas derrotas por 2-0 consecutivas), e encontra-se abaixo da linha de água. É preciso recuar até 1983 para encontrar "o clube" da capital francesa numa tão má posição. Se os acontecimentos extra-desportivos (a violência das claques do PSG que contabiliza um morto após a derrota frente ao Tel-Aviv) ajudam a prejudicar a imagem do PSG, os resultados desportivos agravam a situação. A prioridade é conseguir a manutenção na primeira divisão gaulesa, mas a Taça UEFA é a última e única possibilidade para alcançar os objectivos afixados no início da época : a qualificação para as competições europeias de 2007/08.
Assim, apesar dos jogadores terem a cabeça a pensar no jogo de Auxerre, importantíssimo para o futuro do clube na primeira divisão, o jogo frente ao Benfica vai ser capital, e é visto como a única hipótese de salvar a época. E a mentalidade que reina no Parc des Princes é a de que "ganhar ao Benfica será a melhor maneira de preparar o jogo de Auxerre". Uma mentalidade de palavras, já que as divisões entre os jogadores, e a insatisfação de certos jogadores para com o treinador (nomeadamente a águia dos Açores) é predominante.

Para vencer, o Benfica terá de aproveitar os erros defensivos de alguns jogadores inexperientes e sem qualidades e a falta de fio de jogo do clube parisiense. Poderá eventualmente aproveitar o público como uma força desestabilizadora com o PSG. Uma pressão forte no início, acabando por desnortear os visitados iria causar, inelutavelmente, uma reacção negativa dos adeptos. Um golo madrugador poderia abrir uma goleada histórica para o Benfica.

Curiosamente, não considero que o Benfica venha a ter um apoio, tão enorme como o antevêem, dos portugueses radicados em França. Isto porque a maioria dos lugares do Parque dos Príncipes são lugares anuais, e embora alguns emigrantes tenham conseguido obter um desses bilhetes, essa fracção é minoritária. Além disso, o PSG disponibilizou um sector apenas para os simpatizantes do Benfica que vivem em França, o sector E, que corresponde a mais ou menos 2 000 lugares. Pedro Pauleta chegara a afirmar que o Benfica jogaria em casa. Ou seja, o Parque dos Príncipes irá ser composto em maioria por portugueses. Tendo em conta a capacidade do estádio, ligeiramente inferior a 50 000 lugares, é preciso esperar a presença de mais de 25 000 portugueses para apoiar o Benfica. Se tivermos em conta o facto de que jogar em casa significa ter, na prática, mais de 90% dos adeptos que preenchem os lugares do estádio são simpatizantes do mesmo clube. Assim sendo, não serão 25 000 benfiquistas, mas sim 45 000 benfiquistas que estarão presentes a apoiar o clube português.
Do meu lado, não prevejo mais de 10 000 apoiantes do Benfica, presentes no estádio amanhã.
Veremos, esta noite, quem de Pauleta, ou de mim, tem razão.

O meu desejo vai, obviamente, para um bom jogo de futebol, e um espectáculo digno dessa grande competição europeia. Fair-play dentro e fora das quatro linhas.
Infelizmente, esse desejo não se concretizará. Não por pessimismo, muito tradicional no povo português, mas sim por realismo e pragmatismo. Estão reunidas as condições para um espectáculo de violência:
  • Esta época ficará marcada pelas inúmeras manifestações violentas que avassalaram o mundo do futebol, e que tem vindo a tornar-se frequentes e constantes, nomeadamente no seio dos adeptos parisienses;
  • A má época, e sobre tudo o mau momento, que atravessa o clube de Paris aumenta o nervosismo dos adeptos;
  • O PSG enfrenta um clube português que irá contar com um apoio bastante forte de parte da população portuguesa residente na Grande Paris.
Provocações, zaragatas, racismo e violência verbal arriscam-se a se tornarem mais importantes que o jogo em si.

Uma triste realidade que se torna no dia a dia do futebol.
Fica, no entanto, o desejo de uma vitória portuguesa, e uma atitude honorável por parte dos jogadores, staff do Benfica, e de seus apoiantes.